segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O Príncipe.

Me lembro com riqueza de detalhes da primeira vez que vi o livro "O Príncipe" de Nicolau Maquiavel.
Devia ter uns oito anos.

Naquela época as livrarias não eram como são hoje, tudo divididinho em setores - pelo menos não no interior.
Nem poderia chamar aquilo de livraria, era um punhado de livros empilhados, e você que se virasse.

O título do livro me interessou, mas a capa não e a mocinha da livraria (era Círculo do Livro) logo me persuadiu, "é livro de adulto, de adulto inteligente." Deixei o livro para lá. Apesar de me achar muuito inteligente aos oito anos; sabia que não era adulta. Minha mãe me lembrava disso a toda hora.

Naquele dia comprei "Romeu e Julieta" e um livro da Agatha Christie, acho que era o "Mistério do Trem Azul", ou algo assim.

Lá pelos catorze anos foi que ouvi o adjetivo "maquiavélico". Foi usado pelo meu pai, numa discussão política (comigo!). E meu pai, do alto dos meus catorze anos, era um adulto muito, muito inteligente. (E é.)

Como nunca concordamos politicamente, meu pai e eu, quando perguntei o que era "maquiavélico", ele me disse: "Não é você a que sabe tudo? Vá ler "O Príncipe".

O livro então se tornou algo fantástico e fantasioso para mim. Pelo que entendi da conversa, "maquiavélico" era alguma coisa monstruosa, feia e cheia de segredos.
E príncipe era príncipe.
Como se diz no interior, não orna.

Comecei a imaginar um príncipe que não era encantado - aos catorze anos acho que os príncipes não são mais encantados - mas "maquiavélicos"? Queria porque queria ler "O Príncipe". E minha mãe comprou!

Você consegue imaginar uma criança lendo Maquiavel? Pois eu li. E não entendi absolutamente nada. Foi uma frustração...

Corri de novo ao meu pai, que me veio com uma conversa de os fins justificarem os meios, um negócio que não entendi muito bem (mas fingi que entendi).

Só fui reler "O Príncipe", na faculdade de Direito e confesso que ainda ficou um gosto amargo e com várias passagens ainda indecifráveis.

Pelo menos sei que os fins nunca justificam os meios e que nem Maquiavel quis dizer exatamente isso.

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