segunda-feira, 31 de maio de 2010

Cuidado com as bolinhas de gude!

Alguém teve a infelicidade de ver o jornal nacional hoje?
Quase não assisto TV (não, nada de meio-intelectual-meio-de-esquerda que adora dizer que não vê TV - até me apego numa séria americana, mas para mim a TV é realmente a última opção), mas com as notícias pela internet sobre o ataque israelense à frota humanitária internacional, sentei no computador e deixei a TV ligada, esperando a musiquinha do jornal nacional.
Tô sozinha. Amor viajando e meus filhos com a mãe-bio (digo isso porque senão a TV estaria no Disney Chanel), então quando entrou a musiquinha, fui ver as notícias.
E descobri.
As tropas humanitárias, até então pacifistas, estavam armadas!
Sim meu caro e raro leitor, armadas!
Foram apreendidas bolinhas de gude e estilingues!
É claro que os soldados isralenses tiveram que se defender. Com metralhadoras, ó pá!
Pouco importa se estavam em águas internacionais, se a frota levava alimentos a população da Faixa de Gaza que está a mingua desde o embargo imposto por Israel, se navegavam numa flotilha e foram interceptados por navios e helicópteros militares.
O que são 10 vidas, em nome da soberania nacional? (até agora o número de mortos é esse, amanhã, quem sabe?)
Que ajuda humanitária que nada; eram terroristas. Não se esqueçam, estavam armados! Com bolinhas de gude e estilingues! As 10 toneladas de alimentos que levavam eram só fachada.
Terroristas. Ligados a Al-Quaeda ainda por cima.
Só faltou dizerem que o próprio Osama Bin-Laden estava à borbo e escapou num submarino atômico.

Até quando vamos ouvir as mesmas desculpas do governo de Israel?
Até quando a Rede Globo, sempre com uma engenhosa edição, vai mostrar primeiro a versão do governo de Israel, e depois a (péssima) repercussão internacional do incidente?
Incidente, que incidente que nada, da agressão, do crime.
Até quando os EUA vão menosprezar estas questões?

Triste.
Me solidarizo com o povo palestino da Faixa de Gaza e com povo israelense.
Os dois não mereciam, apesar de seus governos (governo com "g" minúsculo para os palestinos e com "G" maiúsculo para os israelenses, dadas às forças e porpoções).

Me solidarizo também com os 700 humanitários que ousaram.
E com a família das vítimas deste crime horrendo.

terça-feira, 18 de maio de 2010

E no mesmo tema o filme: Segurança Nacional.

Desculpem-me a chatice.
O post anterior foi muito comentado, não aqui no blog (dá pra ver), mas foi.
É duro para uma blogueira trazer seus comentários para o blog.

E eis que li uma crítica na uol sobre o filme Segurança Nacional.
Não vi o filme, parece que estreou em 7 de maio, mas sinceramente não me interesso por ele.

Porém, na crítica, da agência Reuters, de autoria de Alysson Oliveira (segue o link): http://cinema.uol.com.br/ultnot/reuters/2010/05/06/seguranca-nacional-esbarra-em-ufanismo-ingenuo.jhtm
o crítico afirma que o filme se apoia em clichês e frases de efeitos em muitas da falas do personagem principal.
Não sei se pelo ator, pelo personagem ou pelo enredo em si.

O fato é que o crítico ressalta uma das frases do personagem principal: "O narcotáfico é um câncer na sociedade."

Sem querer me estender muito: o que os pacientes de câncer tem com o narcotráfico?

Câncer na fala do filme tem algo a ver com podridão.
E desde quando um paciente de câncer tem esta característica? Ele tem uma doença.

Meu Deus, onde vamos parar?
Dá um desanimo...

terça-feira, 4 de maio de 2010

Deixem em paz os pacientes de doenças psiquiátricas.

Aqui e ali, na imprensa de um modo geral - escrita, televisiva, na web - se passou a utilizar termos que, se antes designavam doenças psiquiátricas, agora dão-se ao uso comum, para se qualificar e, principalmente, desqualificar: pessoas, processos, países, o que aprouver.
Antigamente um paciente que sofria de esquizofrenia era chamado de esquizofrênico, mas apenas nos meios médicos e psiquiátricos.
Hoje, por qualquer atitude sem muito nexo ou explicação lógica, vêm-se a adjetivar: esquizofrênico.
Algum destes escribas sabe o que é esquizofrenia? Sabe o que um portador desta doença sofre? Sabe como é seu dia-a-dia? Conhece os preconceitos a que estão sujeitos? O paciente e sua família?
Aposto que não.
Mas virou modismo chamar políticos corruptos e outros tipos mais de esquizofrênicos.

Hoje, dentre as doenças psiquiátricas, a onda é o transtorno bipolar.
Qualquer sujeito que mude de opinião, convenientemente ou não, é classificado como bipolar.

Alguém já escreveu sobre isso. Acho que foi na Veja. Deixa eu procurar.
Achei e, surpresa: Roberto Pompeu de Toledo, Revista Veja, Edição 2036, 28 de novembro de 2007.
Como é que eu pude me lembrar?
O título do artigo, bom e esclarecedor, é "A palavra como reforço à doença - O prejuízo que pode causar o recurso ao vocabulário médico em áreas que não lhe são próprias."
Segue o link: http://veja.abril.com.br/281107/pompeu.shtml

Pois é, estou citando Roberto Pompeu de Toledo.
Problema algum. Há muito não acredito no bem e no mal, no "preto no branco". Existe toda uma graduação de cinzas.
Não concordar com a maioria das opiniões do colunista citado e do veículo para qual escreve, não quer dizer que os dois não tenham algo a acrescentar.
Explicações à parte, volto ao tema.

No artigo citado, percebe-se que Roberto Pompeu de Toledo - cujo texto tendo a transcrever, mas que vale muito mais ser lido no original; decidindo-me então a recomendar a leitura - estudou bem o assunto.
Já eu, que não sou jornalista, escrevo movida pelo ímpeto e pela indignação.
Sou uma leitora contumaz, sem um bom livro para ler, releio os clássicos. Não os menosprezando, serve também bula de remédio ou rótulo de xampu.
Pois bem, caiu-me nas mãos o livro "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil", de Leandro Narloch, Editora LeiYa.
Nome pretensioso para um livro que anota fatos que qualquer pessoa de cultura mediana está cansada de saber, além de algumas especulações.
Chega de fazer propaganda do livro, ainda que negativa.

O fato é que o autor se utiliza de uma doença psiquiátrica - o transtorno bipolar - para desqualificar de tudo um pouco.
Principalmente o Brasil.
Atenção: nada de patriotada. Não estou aqui para defender país nenhum, tampouco sua "história", o que busco apenas é deixar bem claro que transtorno bipolar não é um adjetivo, é uma doença.
Imagino que o autor pensou estar usando uma metáfora.
Porém doenças não são metáforas válidas, atigem pessoas de verdade, que sofrem e muito com seus sintomas e tudo que vem junto a eles - empregabilidade, por exemplo.
Há o sofrimento psíquico, o físico, há o preconceito.
Ao desqualificar qualquer coisa com uma suposta metáfora em forma de doença psiquiátrica, o autor - ou melhor, os autores, o citado especificamente não é o único - desqualifica também o paciente.
Sem ao menos ter noção do que pode causar ao mesmo.
Não se trata de ser "politicamente correto", mas de respeito ao outro.

Voltando ao livro, apesar de ter topado com o transtorno bipolar sendo usado como adjetivo algumas vezes, mesmo indignada, continuei a leitura (pura falta do que fazer).
Até a página 144.
Nela, o autor escreve (sobre uma época da "história" da "nossa nação"): "O transtorno bipolar chegou ao pico de euforia."
E eu, ao pico da minha paciência.
Dá licença...